Espero curar-me de te em alguns dias. Debo deixar de fumar-te, de beber-te, de pensar em te. Será possível? Segundo as prescrições da moral em turno...Pode até ser. Me receitam tempo, abstinência, solidão. O que é que se sabe disso? Ninguém quer lembrar do que quer dizer "compromisso".
Parece-te bom que te queira mais um dia só? Não é muito, tal vez é poco...será suficiente? Num dia se podem reunir todas as palavras de amor que já se dizerem sobre a terra e pode lançá-los no fogo. Vou acalentar-te com essa fogueira de amor queimado. E também o silencio. Porque as melhores palavras de amor estão entre duas pessoas que não digam nada.
Deve-se queimar também esse outro linguagem lateral e subversivo do que ama. (Você sabe como te digo que te quero quando digo: "qué calor, ne", "quer um cafe, meu amor?", "adoro as comidas que você cozinha", "ja é noite"... Entre a gente, a um lado de sua gente e as minhas, te falo "ja é tarde", e você sabe que digo "te amo".) Deve-se queimar-as...todas as palavras... Não restará uma única palavra, e a gente ficará muda.
Uma noite, um dia mais para reunir todo o amor do tempo. Para dar-te-o. Para que faz com ele o que você queira: guardá-lo, acariciá-lo, botá-lo no fogo. Não serve, é certo. Só quero um tempo para entender as coisas. Porque isso que estou vivendo é muito parecido a estar saindo da luz dos céus para voltar ao escuridão do manicômio, para sufocar-me na fumaça dessas palavras de amor. Para queimar-as, ou queimar-me nas chamas que surgem.